sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Relatos de não se sabe quem

Eu me apaixonei uma vez, mas ela tinha o coração de vidro. Tudo parece tão frágil, as árvores aqui cantam canções tristes. "Cuidado para não se cortar", ela me avisou, mas eu não ouvi. Andava confusa, colorindo sorrisos de azul. Uma dúzia de cigarros perdidos pela bolsa e, nas mãos, alguns trocados de ontem. Me procurou algumas vezes esse ano, poucas ficou. Eu não sei onde ela está agora, mas quem sabe? Ainda sinto aqueles olhos verdes me pedindo para não sofrer a sua dor, acompanhando uma música antiga de vitrola empoeirada, largando as mãos em cima dos joelhos magros. Desapareceu antes que eu percebesse que a deixei entrar.

No meu sonho haviam pássaros, um mar azul e uma pequena varanda. E então havia você. Como eu nunca havia visto. Existia vida em seu rosto. Eu entrei nos seus braços e me cobri com o seu pijama, pedi para você me contar um segredo. "Eles não são imortais", foi o que você me disse. Perdia os sentidos ao seu lado, eu tentava dizer algo e queria que você me tranquilizasse, mas eu sentia seu medo também.

Eu estava bem sexta-feira, quando você me ligou. Talvez um pouco mais sensível que o normal, mas isso não era nada demais. Você me dizia que havia tido uma noite péssima. Não havia nada a se fazer, não havia razões para chorar. Eu te escutava reclamando do telefone. Eu devia saber que era a última vez que eu ouviria a sua voz. Eu realmente devia saber. Está ficando difícil tomar decisões, está ficando difícil viver.

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