segunda-feira, 8 de outubro de 2012

a piada de nós dois

Estou deitado, escornado nessa cama, com cheiros distintos, complicados, bagunçados. Estou uns três cigarros adiantado, demasiado cansado, jogado, como cartas de baralho, embaralhado. Estou ralando a cabeça, os pés, o coração atrás de alguma desculpa nem-tão-sincera para te dizer. 

Estou com alguma saudade boba de coisas bobas que eu não pude ter.

Eu sei que não podia ser mais errado, descompassado, se eu pudesse apagar do quadro os beijos que nós demos em alguma hora do passado. E se eu choro alguma hora, machuco as mãos com medo de que você vá embora e sento encostado, aborrecido com esse vocabulário que você aprendeu para me magoar. E se eu te olho enquanto você dança, fico com medo de parecer criança, te puxo de lado para não me afastar. 

E brinco como quem não quer nada, "não é amor, é quase uma piada". E quase sem ver, nunca mais parei de sorrir.

E entendo que você não vem agora, mas se eu te vejo não quero ir embora, fico abobado esperando o sinal abrir. E toda a noite eu fecho os olhos, fico pesado, extasiado com a sua demora e afasto os pesadelos que me consomem por saber que você não está aqui. Lanço dados ao seu encontro, disfarço vontades, caio, me levanto dos tombos que eu tomei por tentar te seguir.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Tudo que eu toco

Da última vez que eu te vi você ainda usava aquelas botas espancadas e brincos nas orelhas. Não deixava nem que um malandro como eu te fizesse de boba. Eu te pegava às 7 e te devolvia pro amanhecer todos os dias. Você era suave, suave. Eu te fazia sorrir mascando chicletes de menta e bebendo garrafinhas coloridas,  tampando seus ouvidos dos problemas que um dia ainda iam te alcançar. Você não era uma boa menina, mas ainda era a mais boazinha que eu já tive. Não sei se aquilo era amor ou era vontade de viajar com alguém mais easy do que eu, mas era gostoso e fazia a ponta dos dedos congelarem. Mas tudo que eu toco, meu bem, estraga. Você nunca soube se ia ou se ficava. Eu te mostrava o que eu conhecia do mundo e você me oferecia beijos com gosto de cafés açucarados, feitos para menininhas igual a você. A gente se afastava todos os dias, mas eu insisti em tropeçar em você algumas outras vezes, por querer, sem querer, ninguém se importava. Vez e outra você partia sem olhar para trás e eu sabia que mesmo assim, mesmo precisando tanto de mim, você ainda conseguia ir embora. Talvez o seu sorriso não fosse mais tão brilhante e o ar não fosse tão mais puro. Tudo isso era recorrente da força que você fazia para não tombar toda vez que eu ia. Ou que eu voltava.

Aquele dia aconteceu da gente não se encontrar mais. Nem se esbarrar nessas esquinas perdidas do centro da cidade, nem no seu cinema favorito, na minha tabacaria. A gente chegou a dar tchau, sim. Tchau, até uma outra vez, no ano novo, quem sabe? Ninguém sabia. De vez em quando eu ainda te procuro pelo retrovisor. Procuro algum traço seu em rostos de meninas bonitinhas, com sorrisos rebeldes. Até gravo umas músicas chatinhas para você escutar num headphone e essas coisas maneiras que existem por aí. Guardo tudo na memória pra se um dia, menina, eu te encontrar. Eu era o cara da jaqueta de couro com botas enlameadas que sujava a soleira da porta da sua casa. Eu sabia que por baixo daquela barba mal feita de sábados a tarde havia uma cara amassada de quem bebeu demais ou chorou demais. Você sempre entendeu que apesar das minhas manias e manias havia alguém ali, debaixo de toda aquela carapuça, usando óculos escuros havia, sim, talvez, quem sabe? um coração. Mas durava pouco. Eu sumia uns dois ou três dias, mas sempre chegava na hora certa. Achei que o importante era saber que eu sempre voltava. Pedia perdão e mentia pra ficar só mais um pouquinho com você. Eu nunca soube porque você sempre me quis de volta. Nunca perguntei também. Achei melhor deixar assim, sem perguntar coisas difíceis de responder. Ou duras de ouvir.

Olha, preciso te falar umas coisas. Love kills. Mas é óbvio que você sabe disso. Você não era uma dessas garotas que usam blusas de seda com cordões e esperam que eu as leve para casa. Você tinha, de fato, blusas de seda, que amarrava na cintura e, vez ou outra, deixava as cinzas quentes de cigarro baterem um furo ou dois. Não sei porque te deixei ir. Quando deito a cabeça no travesseiro e penso nisso é que eu não durmo. Talvez eu tenha apagado depois de alguns tapas e quando acordei você já havia ido. Talvez eu tivesse tanta certeza da sua volta que não me importei em calçar os sapatos. Mas eu queria que você tivesse ficado. Que me obrigasse a prometer ser um bom garoto, me fizesse dispensar os coturnos e a mania de seguir aqueles punks remanescentes, gritasse até eu largar os cigarros e passasse a lavar mais as mãos. De que adianta, agora, fechar os olhos e desejar? Eu te perdi em uma dessas esquinas perdidas do centro da cidade, no seu cinema favorito, na minha tabacaria. A gente chegou a dar tchau, sim. Tchau.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O nosso desencontro


Entenda. Estou deitado no sofá esquadrinhando o sol matinal que entra pela janela da sala, com uma guimba de cigarro pendendo entres os dedos, enquanto você prepara alguma coisa na cozinha. Antes que eu possa sentir o cheiro de café quente e panquecas, você me surpreende com pernas e calcinha e minha blusa verde favorita. "Desgraçada", é o que eu penso, enquanto você se aproxima sorrindo. Tento desviar o olhar, fazer um ar descontraído, fingir que nada disso importa para mim. Tento me convencer que não me lembro que ontem tudo acabou em cervejas jogadas pela casa e uma cama barulhenta às três da manhã.  Tudo bem. Estou sendo crítico demais comigo mesmo. Já faz quatro meses que você largou as chaves em cima do balcão e disse que me amava, que me queria, só não podia ficar mais, só não suportava mais. Não agora, não amanhã. Talvez daqui alguns anos.

Você foi embora e eu não quero ser o que te impede de partir outros corações. Ou quero. Mas o meu tá quebrado demais para que eu possa consertar. Eu morro lentamente, enquanto você passa com essas pernas perfeitas e olhares ansiosos, me pedindo para deixar para lá, deixar acontecer, me permitir sofrer. Me permitir sofrer por você. Não. Não posso desandar agora, esquecer dos joelhos ralados, das promessas que fiz enquanto me embebedava em um bar qualquer, com pessoas quaisquer, com luzes baixas, com consciências pesadas. Não importa. O que eu não sei é como chegamos até aqui. Você tinha tantas outras coisas para fazer. Arrumar as malas, ver aquele filme francês no cinema do centro, terminar o curso de Alemão. E ainda precisava ir para a cama comigo. Eu só tinha alguns dias ensolarados e uns cigarros importados. Tento te imaginar agora: deve estar em casa, pendurada no telefone a melhor amiga que arranjou ontem naquele bar de Ipanema, com muitas cervejas e alguns trocados em cima da mesa. Deve estar achando um saco a possibilidade de eu me re-apaixonar por você. Re-apaixonar é um saco, eu te entendo. É como comer chocolate meio amargo: é gostoso, mas sempre sobra meia barra.

Você era um sussurro, um plano mal feito, umas brincadeiras de sexta-feira. Você era meu descanso no tédio do trabalho às quatro da tarde, quando até as melhores piadas perdem a graça. "Você virou a piada sem graça", eu penso. Você deixou de ser a menina bonitinha das pernas bonitas e virou um nada. Um grande e feio nada. Eu espero que o tempo passe e te leve daqui. Leve consigo todo o seu perfume, a sua presença, até o seu cabelo bagunçado nos domingos de manhãs frias. Eu não quero que deixe nada. Nem um centímetro da sua perfeição escandalosa que fazia os caras dos apartamentos vizinhos saírem de casa mais cedo só pra te ver indo embora de mim. Decidi que nas sextas solitárias e nos bares cansados, eu não me embebedaria mais de você. Eu me embebedaria do que sobrou - caixas de chocolates e sorrisos bonitinhos - até que tudo acabasse. Até que todas as suas lembranças morressem. Pode dar certo, eu disse baixinho para mim mim. Pode dar, vai dar.

Eu te olho nos olhos, te peço para sentar comigo no sofá da sala. Foram cinco ou seis baques, uns cigarros picados e algumas mãos bobas em pernas distraídas por baixo da mesa. Não foi nada demais, você sabe. Eu poderia te entregar as chaves novas, te oferecer um café, um suco, sei lá, te oferecer para ficar, mas eu não quero. Você pergunta se eu deixei de te amar. Fico estático, feito idiota. Nunca parei para pensar nisso.  Não sei se é amor o que eu sinto agora ou se é alívio por conseguir te sentir de perto sem querer te beijar. Aí eu lembro das vezes que nós saímos pela cidade cantando aquelas músicas que você odeia. E lembro do seu cheiro doce misturado ao meu cigarro. E dos beijos de manhãs. Não é nada disso.

Eu te amo, sim. Esse foi o nosso desencontro.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Sobre medos e escolhas

Eu não escolheria você. Eu não escolheria ninguém. Nunca quis me entregar às responsabilidades de discussões sobre gostos musicais, canais de televisão no horário de almoço, qual o lado da cama é seu e quem de nós dois ama mais. O amor tornou-se tão clichê para mim quanto filmes de romance em dia de chuva. Decidi que te deixaria pra lá, da mesma maneira que guardei aqueles livros que me traziam más lembranças no fundo do armário. São essas manias de esconder a verdade que despontam aquele incômodo que você sente quando vai dormir: eu bem que poderia esvaziar aqueles armários. É, eu bem que poderia esvaziar o coração.

Eu queria poder te querer, sem querer. Se você tropeçasse em mim alguns anos atrás, quem sabe. Mas, de alguma maneira, o destino decidiu que você viria agora, como que para me testar. Como que para me dizer que não há desistência fácil do amor. E para tornar-me mais um rebelde que junta suas causas ao lema de que não há sentimento que nos faça perder a razão, eu teria que me foder muito mais. Não sei quando foi, se houve realmente um momento de reflexão, mas entre um sorriso e um abraço de despedida, eu decidi que preferia me foder com você. De todas as maneiras possíveis.

De um jeito ou de outro, eu sabia que o final não seria tão incerto quanto o início. A verdade é que eu não acreditava nem por um segundo que me amarraria em você e me casaria de baixo de um pomar de maçãs vermelhas, com promessas de alianças e cartas esparramadas pela cama nas temporadas de viagens à trabalho. Eu continuava a passar por aquele armário da sala, infestado de covardias e relacionamentos passados e nunca me permiti pegar as chaves e jogar toda aquela velharia fora. Nem ao menos passei um pano para tirar a poeira. Eu estava lotado demais, pesado demais, descrente demais de tudo que me pudesse fazer feliz. Você sim, me amava com tanto êxtase que preenchia todas as minhas falhas.

Você vinha às sextas, me tirava da rotina de cervejas e cigarros e me apresentava camas de hotéis e restaurantes italianos. Eu achava bonitinha a maneira como você não desistia de mim. Nem por um segundo. De repente, eu comecei a gostar daquilo. De saídas caras e taças de vinho à luz de velas. Eu comecei a fazer as pazes com o amor. Eu gostava da curvinha que seu o ombro fazia e da maneira como o seu corpo encaixava no meu. Aquele sexo deixou de ser só sexo. Aquele sorriso deixou de ser só mais um sorriso. Todos os meus blocos de anotaçõesfilosóficas tornaram-se romances de quinta. Eu estava me entregando, deixando você me levar para onde você quisesse. Eu era seu.

Antes, fazer pouco caso do amor era a saída mais fácil dessa confusão que você plantou na minha cabeça. Fingir que eu não te amava parecia mais saudável do que passar a dividir cobertores, perfumes, contas do mês. Em pouco tempo percebi que é impossível bater de frente com essa ironia que é se apaixonar, ainda mais quando você tem uma certa decepção guardada que lhe toma toda a sensibilidade amorosa. Ao enxergar o amor, te sobram duas opções: você espera ele vir e te dilacerar ou morre sem saber o doce que é sentir. Entre as duas opções, você fica ali, parado, com cara de idiota, tentando se defender de uma menininha com olhos de amêndoas que, dentre 7 bilhões de pessoas, só escolheu você.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Olá

Dentre todos os meus quebra-cabeças, essa era uma palavra fácil. Na ponta da língua, parecia leve. Eu queria sentar do seu lado e dizer. Talvez até te oferecesse um café com essência de canela, uma dessas coisas que dizem posso-me-sentar? de uma maneira descontraída, isto é, se você não reparasse que as minhas mãos tremiam demais para um simples cumprimento de dois amigos que não se vêem há algum tempo. Hoje fiquei o dia inteiro enfiado no sofá da sala com uma barra de chocolate nas mãos tentando ter algum vislumbre do seu sorriso. Tentando lembrar de algum ponto fraco seu, onde, quase imperceptível, eu pudesse descansar o meu esforço de ter todas as suas partes que me domam com um toque sensível e maduro. Eu tento me levantar com o mínimo de esforço, para que, se tudo der errado, eu não me arrependa tanto quanto se saísse correndo desse apartamento e batesse à sua porta com um cartão e flores amarelas. Mesmo porque as flores amarelas estão com um sorriso triste de quem morreu semanas atrás, onde as coloquei na cozinha, num copo com água, para me lembrar que, dia após dia, eu não me atrevi a colocar os pés para fora de casa.

Penso que deveria tirar umas férias de casa. Fazer passeios à padarias distantes e cinemas retrôs do centro da cidade. Talvez eu pudesse me perder na rua da sua casa, onde, sem querer, me atraso para bater à sua porta pedindo um copo de água, inventando uma história que te faça aproximar de mim. É que desde aquela noite eu não consigo tirar os olhos de você. Não sei bem se foi um desses encontros em que todos os detalhes tomam proporções gigantescas e até a curvinha da sua clavícula parece a mais linda do mundo. Eu dei razões para o meu coração amar e, sem pensar duas vezes, ele correu até você e te amarrou com cordas de piano. Mas cordas de piano machucam a pele, os braços, as pernas - qualquer parte do meu corpo que tenha sobrado - e me devolvem as cicatrizes de amores passados. Acendo mais dois cigarros e sigo com o meu dilema. Descer as escadas que dão para a rua é um caminho arriscado se a cada distração os meus pés me levam até você. Adio minhas férias e me jogo na cama. Percebo que você continua sorrindo, com ou sem cordas de piano imaginárias. Você continua linda, com ou sem alguém que te ama do lado.

É uma faca de dois gumes amar você. Posso me largar no seu coração tumultuado e pedir a Deus para que você me entenda. E posso viver com a angústia de nunca saber o que você me diria se eu telefonasse às três da manhã só para ouvir a sua voz. Te pedir para ficar, para morar na minha cama, no meu peito, na minha voz. Ou te pedir para deixar um pedacinho seu em cada metro quadrado da minha casa, para que ilumine o meu quarto nos domingos de manhã. O único fato consumado é que eu não quero viver sem ter a sua essência nos meus cafés com leite vaporizado e seu gosto nos meus jornais de fim de tarde. Não quero passar pelo processo que é aceitar uma das coisas que mais corta o coração: a despedida de um amor que nunca existiu. Eu gosto de me fantasiar de realidade quando você passa. Eu gosto de correr pela rua da sua casa. Mas o que eu mais queria, o que eu mais desejava, era coragem para gritar o amor que eu sentia por alguém que nem sabe se me ama.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Foi num desses dias quaisquer que me peguei pensando em você.


Enquanto eu passo e trespasso na minha cabeça os tombos que tomei me apaixonando, percebo como você tem um sorriso bonitinho e como mexe no cabelo descontraída. Desculpa, é que eu perdi a concentração e nem sinto mais os ralados no coração. Você vem às sextas-feiras, me dá um pedacinho de amor e me deixa querendo ter tudo que eu não tenho agora. Me deixa com a cabeça flutuando no travesseiro, pedindo a Deus para que não faça barulho o tanto e amor que eu tenho para te dar. Eu me viro do avesso e você diz que o meu avesso é o lado certo para você.

Deixo que os dias passem calmos, que é para tentar te tirar da cabeça, quem sabe até achar um defeito, ou cismar que você não é a pessoa certa para mim. Deixo que os dias me derrubem, a cada frase em que eu te menciono e conto para os meus amigos que, por mais eu não te queira, por mais que eu não possa te querer, você continua usando o melhor perfume do mundo. Deito na cama, que de repente, sabe-se lá porquê, tornou-se leve demais para mim. Começo a achar que preciso de dividir os lençóis com você. É tarde demais.

Você diz que vai me segurar nas mãos. Eu tentaria te guardar em um cofre, para ter certeza que você não vai embora. Eu queria te colar em mim, te segurar, não te deixar ir até a esquina, com medo de que você vá querer conhecer a próxima esquina. Mas mesmo de longe, te dou umas olhadas. Você pode dar a volta ao mundo que ainda sei que vou te ter. Eu daria a volta ao mundo por você. Eu escreveria um texto brega e postaria no meu blog. Só para você ter certeza que eu não ligo de ralar os joelhos se for para te ter.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Te seguro pela mão, amor

Você acaba se perdendo na primeira esquina. Acaba não encontrando mais o seu rosto no espelho do banheiro. Você luta contra tudo a sua volta, mas acaba tropeçando nos próprios pés. Você tenta gritar, mas não encontra a sua voz em lugar algum. Sente a luz do farol queimar o pescoço e, num giro, se vê no coração de outra pessoa. Pode tentar sobreviver em um cantinho qualquer, enrolado em um cobertor xadrez e com algumas xícaras de café. Você precisa tanto quanto eu de qualquer baque que faça o corpo arrepiar em uma mistura de frio e quente. Você prepara outra dose de amor e vira com limão e sal. Não é tão cruel assim, então coloca outro LP para tocar.

Me deixa que se você quiser eu te puxo pela mão. Te levo para conhecer do alto um mundo imaginário. E te cuido com carinho para que você não morra na praia, com flores na mão e milhares de promessas. E sopro no seu ouvido alguns segredos de castelos, para que não exista mais mistério nisso que chamam e amor. Te acordo todos os dia e disputo contigo um pedaço do lençol. E te faço cócegas que é para aliviar o medo de dormir sozinha. Não precisa me esperar chegar em casa, amor, que de longe eu te olho com um binóculo e te salvo de algum pesadelo. Pendura na sua cama esses colares que te lembram dessas coisas ruins. Eu prometo que de manhã te abraço até o sol se por.


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Você foi embora

Eu achei que te teria para sempre. Que mesmo quando os dias ficam frios você ainda aguentaria minhas manias e minhas antipatias. Achei que eu pudesse errar inúmeras vezes e que ainda assim você viria me ver de manhã. Não me avisaram que o amor não sobrevive à tudo. Eu pensei que, de um jeito ou de outro, você nunca me deixaria. Então, eu desço as escadas e te encontro partindo. Quero pensar que tudo bem, você só vai até a padaria e volta, pra me trazer uns doces. Vai deitar comigo na varanda até ficar tão frio que os dedos adormecem. Você tem um sorriso estranho no rosto e não consegue me dizer nada. Mas eu achei que podia ser uma completa idiota que você ainda iria querer me beijar.

Penso em tudo que a gente passou até aqui. Queria que você pudesse continuar. Eu costumava ser os seus segundos mais importantes e você era a calma que eu precisava. Eu dormia tarde e você cuidava do dia de amanhã para que eu não me perdesse. Ou para que eu me perdesse somente em você. Te deixar nunca foi o melhor caminho. Fico te olhando nos olhos enquanto você está parada na porta de casa, precisando que eu diga alguma coisa. Penso em te convencer a ficar, tem um filme ótimo passando na televisão.

Eu posso escolher entre te prender em mim e te dar uma vida, mas sou egoísta demais para isso. Lembro do dia em que você me beijou pela primeira vez. Talvez você fosse minha garota, mas talvez eu nunca soube como amar. Ainda assim, não posso suportar a ideia de te ver conhecendo outros amores e se perdendo em outras paixões. Queria te abraçar, mas você começou a ficar impaciente e parece que vai desistir. Quero gritar que você não pode fazer isso comigo, mas eu quebrei seu coração e esperei que você o remendasse e voltasse para mim. E você voltou sempre que eu te pedi.

Eu te olho querendo procurar aquele nosso amor. Não consigo dizer nada. Você diz que vai embora e liga para o táxi. Eu sento nas escadas e escondo o rosto entre as mãos. Será que eu te amo? Não consigo encontrar uma resposta que me diga o que fazer. Não consigo chorar ao te ver partindo. Não consigo acreditar que eu não me casei com você. Que você não é minha para sempre. Queria te ver sorrindo mais uma vez, mas eu nem sei há quanto tempo não te faço feliz. Eu te deixo ir embora e, pela primeira vez na vida, me sinto completamente perdida. Eu me sinto como você.