sábado, 26 de janeiro de 2013

O dia em que acabou

Balanço os pés pertinho dos seus. Você chegou 45 minutos atrasado e já vai embora. Veio me dizer que não sabe, não entende, não consegue. Chega cheio de promessas e saí sem esperança nenhuma. E agora, sentada aqui do seu lado, te olhando meio que não querendo olhar, não consigo saber qual era o problema. E se havia mesmo um problema. Ou se os problemas eram tantos que pareciam normais. Mas eu não queria te deixar ir. Mesmo não sabendo, não entendendo, não conseguindo. Ficar era essencial.

Mas você foi mesmo assim. Não deixou nem uma lágrima, nem uma desculpa aceitável. Sussurrou aquelas coisas clichês por uma semana, como se me preparasse. Como se a linha tivesse acabado logo depois de ter começado. Acho que no fundo, eu sabia. Estava meio que me aceitando, resolvendo as papeladas, esperando pelo momento em que você sairia por aquela porta e nunca mais voltaria. Culpa de quem? Culpe o mundo e sua instabilidade. Culpe a necessidade das pessoas de ir embora. Culpe quem tem que ficar e nunca fica.

Você foi e suas convicções ficaram presas em mim. Todos os seus planos, suas medidas, suas manias exatas. Você ficou preso e o que restou de mim, você levou. Agora eu sou você. Sou completamente você e você é completamente eu. Você me levou de mim. Tudo parece um traço de um passado que eu soquei as paredes para esquecer. Tudo é mais distante que o normal, não faz mais tanto alvoroço na minha mente.

( ...)

Dia desses sentei na cama no meio da noite e esperei ficar triste. Não consigo mais. Eu esqueci você, esqueci suas idas, esqueci suas voltas, seus sorrisos, suas meias palavras. Não consigo nem ao menos derrubar uma lágrima. Aí eu me sinto triste por não estar triste por você. Mas sei que um dia isso vai passar também. Quis chorar muito esse dia. Minha vontade era me jogar no sofá com um pote de leite condensado e chorar, chorar, chorar. Chorar por não chorar mais por você. Ora, "lágrimas não são argumentos", eu sei, eu sei.

Troquei o café de manhã por um maço de cigarros. Experimentei todas as bebidas que me ofereceram. As suas cicatrizes ficaram, mas o meu sorriso ainda é meu. Te encontrei no cinema semana passada, namorada nova, camiseta nova, barba antiga. Você me perguntou do trabalho, eu te perguntei sobre a vida. Nada estimulante, na verdade. A menina que te acompanhava te deu um beijo, te protegeu de mim. Eu olhei pra ela e quis te proteger de mim. De todo o sentimento que você explodiu em mim, aquele ano atrás. De todas as estrelas que você criou no meu olhar. Mas você agora é um cara, só um cara, que vai ao cinema com a namorada e compra dois sacos de pipoca e um refri. Eu continuo sendo quem eu era antes de você. Quarenta e cinco minutos atrasado e dois segundos de amor para me servir.