segunda-feira, 17 de junho de 2013

Nossa história não dá nem um best seller, amor

O telefone toca e são quinze para quatro de uma manhã de sábado. Não tem ninguém em casa, ninguém nos portões. Ninguém ama às quatro. Todos estão bebendo ou transando. O resto chora em suas camas. Eu estava me procurando por aí e me encontrei em seus braços e sem querer me perdi no seu descaso. Acabei alimentando meu fracasso com toda a esperança de suas tentativas fracassadas. Você me pede pra eu te encontrar na porta da sua casa. Estou ocupado e bêbado, bobo, estirado nesse sofá, mas me levanto e vou me crucificar junto à você. O meio do caminho é sempre mais sombrio que o começo. Sinto o cadarço do tênis incomodar. Sinto as mãos frias tentando esquentar. Percebo que já não lembro o caminho para a sua casa. Ou já não quero lembrar.

Estamos tímidos, você me pede para sentar. Então eu junto as mãos e as enfio entre as pernas. O frio nos dilacera, mas não nos importamos. Estamos acostumados à dor. Estamos anestesiados. Não sabemos nem ao menos qual o cheiro do ralo, não sentimos os cortes do coração. Somos insensíveis, meu bem, já não nos respeitamos. Não somos mais quem éramos há alguns anos. Me quer dia sim e dia não. Te amo hora sim, minuto seguinte não. Somos covardes. Mas continuamos achando bonito isso de se machucar. Talvez seja hora de cicatrizar, amor. Quase tenho coragem de te pedir por favor.

Você não sabe bem por que me chamou e eu não sei dizer por que escutei. Vai ver você se sentiu sozinha e eu quis te proteger. Talvez foi insuportável para você pensar em me perder. Talvez eu estivesse atrás de mais uma razão para beber. São infinitas decisões. São infinitas possibilidades e todas elas sempre acabam em um lugar onde eu não posso te ter. Olho para o lado e tento ver os seus olhos. Já não me lembro de quase nada sobre nós dois. Já não sei te tocar como eu te tocava. Não somos mais nada. Somos espaços perdidos de algo que já foi, já passou, não volta mais.

Então deixa pra lá, tá muito chato te amar.
Tá muito chato viver pra te contar,
Que um dia a gente aprende a esquecer.

E a nossa história não é mais história para se vender.