Poliana não bebia. Não usava drogas, não fodia. Poliana morava com os pais, às vezes com uma prima. Poliana não gostava de gente, espumantes, taxistas, feira aos domingos, motociclistas. Eu não a conhecia, mas sentia um gigante desprezo por Poliana. Ela cheirava a todas as coisas que eu odeio. Ela representava todos os meus medos mais controversos, cirrose, abortos, overdose. Sociopatas, vômitos, taxas, almoços, retrovisores. Poliana me infestava de desconfortos, aumentava minha desconfiança, me colocava ameaçado. Eu já não era ninguém quando Poliana existia ao meu lado.
Eu não gostava de Poliana e Poliana não me amava. Frequentava a Igreja aos domingos e orava toda Ação de Graças. Eu cuspia o chiclete na rua e deixava as meias sujas para fora do cesto de lixo. Poliana me encaminhava aos melhores centros de reabilitação, mas eu nunca estive sóbrio perto de Poliana. Ela me sugava toda a seriedade, roubava de mim toda a castidade. Eu nunca reclamava. Poliana me acha insensato, porco, consumista, estabanado. Eu queria matar Poliana da mesma forma que ela me matava todos os dias. Poliana me impedia de toda minha pureza, toda a minha coesão. Poliana fez de mim um corrupto, encheu meus olhos de sujeira e podridão.
Acabei me casando com Poliana. Poliana agora dá uns tapas em um baseado e fode como ninguém. Trocou a saia longa por cinta liga e o terço só reza às quintas. Poliana enrubesce ao gozar, mas ainda pede perdão por toda a vossa cocaína. Pai, não nos deixeis cair em tentação. Poliana adora charutos, cervejas, camas, apostas, dinheiro. Poliana sou eu, mas eu também já não sei quem sou. Quem agora ora por Poliana? Ela é o meu medo mais controverso. Poliana me infesta de baixarias, apreende meu estrago, ameaça minha calma. Eu já não sei quem é Poliana quando eu existo ao seu lado.
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