terça-feira, 10 de abril de 2012

Sobre medos e escolhas

Eu não escolheria você. Eu não escolheria ninguém. Nunca quis me entregar às responsabilidades de discussões sobre gostos musicais, canais de televisão no horário de almoço, qual o lado da cama é seu e quem de nós dois ama mais. O amor tornou-se tão clichê para mim quanto filmes de romance em dia de chuva. Decidi que te deixaria pra lá, da mesma maneira que guardei aqueles livros que me traziam más lembranças no fundo do armário. São essas manias de esconder a verdade que despontam aquele incômodo que você sente quando vai dormir: eu bem que poderia esvaziar aqueles armários. É, eu bem que poderia esvaziar o coração.

Eu queria poder te querer, sem querer. Se você tropeçasse em mim alguns anos atrás, quem sabe. Mas, de alguma maneira, o destino decidiu que você viria agora, como que para me testar. Como que para me dizer que não há desistência fácil do amor. E para tornar-me mais um rebelde que junta suas causas ao lema de que não há sentimento que nos faça perder a razão, eu teria que me foder muito mais. Não sei quando foi, se houve realmente um momento de reflexão, mas entre um sorriso e um abraço de despedida, eu decidi que preferia me foder com você. De todas as maneiras possíveis.

De um jeito ou de outro, eu sabia que o final não seria tão incerto quanto o início. A verdade é que eu não acreditava nem por um segundo que me amarraria em você e me casaria de baixo de um pomar de maçãs vermelhas, com promessas de alianças e cartas esparramadas pela cama nas temporadas de viagens à trabalho. Eu continuava a passar por aquele armário da sala, infestado de covardias e relacionamentos passados e nunca me permiti pegar as chaves e jogar toda aquela velharia fora. Nem ao menos passei um pano para tirar a poeira. Eu estava lotado demais, pesado demais, descrente demais de tudo que me pudesse fazer feliz. Você sim, me amava com tanto êxtase que preenchia todas as minhas falhas.

Você vinha às sextas, me tirava da rotina de cervejas e cigarros e me apresentava camas de hotéis e restaurantes italianos. Eu achava bonitinha a maneira como você não desistia de mim. Nem por um segundo. De repente, eu comecei a gostar daquilo. De saídas caras e taças de vinho à luz de velas. Eu comecei a fazer as pazes com o amor. Eu gostava da curvinha que seu o ombro fazia e da maneira como o seu corpo encaixava no meu. Aquele sexo deixou de ser só sexo. Aquele sorriso deixou de ser só mais um sorriso. Todos os meus blocos de anotaçõesfilosóficas tornaram-se romances de quinta. Eu estava me entregando, deixando você me levar para onde você quisesse. Eu era seu.

Antes, fazer pouco caso do amor era a saída mais fácil dessa confusão que você plantou na minha cabeça. Fingir que eu não te amava parecia mais saudável do que passar a dividir cobertores, perfumes, contas do mês. Em pouco tempo percebi que é impossível bater de frente com essa ironia que é se apaixonar, ainda mais quando você tem uma certa decepção guardada que lhe toma toda a sensibilidade amorosa. Ao enxergar o amor, te sobram duas opções: você espera ele vir e te dilacerar ou morre sem saber o doce que é sentir. Entre as duas opções, você fica ali, parado, com cara de idiota, tentando se defender de uma menininha com olhos de amêndoas que, dentre 7 bilhões de pessoas, só escolheu você.