terça-feira, 5 de julho de 2011

Cardápio

Você inventa uma desculpa qualquer pra me convencer que foi engano. Eu finjo que acredito e você continua planejando essas viagens que eu nunca entendi. Eu peço pra te encontrar em qualquer canto dessa cidade, a gente marca um horário e você não vem. Não ligo pro tempo perdido, pro cigarro queimado e sigo meu caminho que nem tem mais graça sem você tirando sarro de tudo. Eu lembro do jeito que você assustava fácil em um filme de suspense barato que a gente alugava pra espantar o tédio que você sentia. Eu nunca conseguia ficar entendiado perto de você. Eu tento mais uma, mais duas e você não atende. Tento procurar a desculpa menos dolorosa. Deve ter perdido a hora no meio daquelas cobertas. Eu lembro que esqueci minha blusa e um maço de cigarros na sua casa, mas é só uma desculpa. Tropeço nesses anseios de te ver só mais uma vez, ou duas, quando toco o interfone da sua casa. "Desce só um pouquinho?", esqueci de pedir de volta o que era meu. Você me pede pra subir. Te olho com aquela cara de quem quer entrar. Deixa eu ficar pra sempre? Deixa eu te olhar mais dois segundos antes de você sumir pela porta do banheiro? Daqui consigo escutar a confusão que você faz quando precisa escolher alguma coisa. Você quer correr de mim pra pensar um pouco, mas sabe que eu não vou deixar, senão você esquece e fica pensando pra sempre. Você dá um passo e minha mão te acompanha. Eu te abraço e te deixo em cima da muro, num ir e vir sem saber o que fazer. Eu te carrego e te puxo pro meu lado. Você aceita e, agora, quem te deixa entrar sou eu.

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